terça-feira, 21 de julho de 2020

DONA PRETA E SEU EDELVIRGE: UM CASAL EMBLEMÁTICO DE NANUQUE




Dona Preta e seu Edelvirge: um casal emblemático de Nanuque





* “Mas não diga nada
Que me viu chorando
(...) Diz que vou levando
E se puder me manda
Uma notícia boa.”

* Os versos acima, descontextualizados da letra original, foram escritos em 1969 por três grandes nomes da música popular brasileira, verdadeiros gênios - Chico Buarque, Toquinho e Vinicius de Moraes. Dessa parceria nasceu o “Samba de Orly”, clássico gravado por Chico no álbum “Construção”, de 1971, que tenho como item básico da minha coleção de vinis e CDs.

Acordei hoje bem cedo – como faço todos os dias - pensando em escrever algo sobre a dona Preta, honrosamente Orly Maria de Oliveira da Silva, que nos deixou no domingo passado, 19/7. Seu nome inspirou a lembrança da música, e eu acabei ficando aqui cantarolando, deixando fluir as emoções.

Ao lado do grandalhão Edelvirge Rodrigues da Silva, estava carimbado um casal emblemático da nossa cidade. 

Ainda criança, fui um dia à casa deles, levado pelos meus pais, contemporâneos de dona Preta e seu Edelvirge. Quanta simpatia!

Tantos anos depois, sacode a lembrança da gente no barzinho do casal, ali no alto da Rua Leopoldina, famoso pelo ambiente gostoso, em família, pelo guaiamum, buchada, a cervejinha gelada e, principalmente, a doçura dos dois.

Numa cidade como Nanuque, a gente acaba se lembrando de todo mundo que faz parte do nosso convívio, mas tem gente que fica mais tempo agasalhado na lembrança, caso daqueles dois apaixonados.


Dona Orly completou 78 anos dia 25 de março, quando esse negócio de pandemia de coronavírus parecia um fantasma longe daqui, lá pros cafundós da China, mas resolveu atravessar o mundo pra tirar nosso sossego.

Era natural de Aimorés, cidade mineira do Vale do Rio Doce. Aos 20 anos, em 1962, veio morar em Nanuque, acompanhando a família, mesmo ano em que conheceu o grande amor da sua vida; começaram a namorar. Apenas oito meses depois de se conhecerem, resolveram eternizar o amor e se casaram na Igreja Imaculada Conceição. 

Não demorou muito para a primeira filha, Ederly, entrar em cena; depois, vieram Edvânia e Sandra. Os frutos foram multiplicados com cinco netas e dois netos. Mas a extensão do carinho do casal propiciou algo em torno de uns 70 afilhados.


Morena bonita, sorridente e falante, virou a dona Preta, pessoa ativa e participativa. Trabalhou como Agente Comunitária de Saúde nos PSF dos bairros Vila Nova e Vila Esperança e foi professora de corte e costura, mas tinha mesmo era o sangue de empreendedora. Atuou em diversos setores, como salão de beleza, confecções e costura. Em 2005, adquiriu o armarinho Vanusa, que posteriormente se tornou Armarinho Arco-Íris. Sempre apaixonada por costura e artesanato, foi uma excelente artesã. Quem conheceu seus bordados e crochês, teve o prazer de ver o carinho aplicado em cada ponto.

Como testemunha sua neta Mayne, Orly foi “uma mulher de muita fé e devota fiel de Nossa Senhora, dedicou grande parte da sua vida para as atividades voluntárias da Igreja Católica, como catequista, ministra da eucaristia, presidente do Apostolado da Oração, membro do Sagrado Coração de Jesus, idealizadora do ECC em Nanuque e engajada em diversos projetos sociais.”


E mais: “Adorava reunir a família para celebrar o amor e tinha muito orgulho de tudo que construiu. Foi um exemplo de esposa, mãe, avó, irmã, cunhada, tia, madrinha, sogra e amiga. Sempre se entregou com todas as suas forças para emanar carinho e amor ao próximo, mulher amada, forte, guerreira, otimista, com muita sede de vida e irradiava alegria como o sol irradia luz. Nunca desamparou quem necessitasse de amparo.” 

Mayne arremata, dizendo: “Há pessoas que ficarão eternizadas pela emoção que proporcionaram; não importa o amanhã, elas existirão para sempre. Agradecemos a Deus por ter nos dado a chance de um de seus anjos ter vivido conosco. Nós sempre te amaremos e as saudades serão eternas.”

* Ainda sobre o “Samba de Orly”, independentemente de quem tenha sido a Orly inspiradora do Chico Buarque (que tem 76 anos), ou do Toquinho (74) ou mesmo do Vinicius de Moraes (que morreu em 1980, quando tinha 66), por enquanto fica difícil “mandar uma notícia boa”.

Por aqui, só saudade. Um casal desfalcado, a ausência da metade de um par perfeito. E, enquanto ficamos por aqui, vale o bordão: vida que segue!

Texto do prof. Ademir Rodrigues de Oliveira Junior com informações e depoimentos de Mayne Luisa, neta de Orly.



7 comentários:

  1. Eu tenho orgulho de dizer q era minha tia irmã de minha mãe...

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  2. Linda homenagem a minha tia... queria tanto voltar a ser criança só pra ouvir que a senhora virou uma estrelinha.. e todos os dias olhar para céu e procurar a senhora.. minha tia babá

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  3. Muito obrigada pela homenagem. Ficou muito linda.

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  4. Dé, Preta era daquelas pessoas que eu considerava imortal. Nunca me passou pela cabeça que um dia ela morreria. Eu tenho esta ideia a respeito de certas pessoas. Ela se foi e deixou em mim e em todos os seus amigos a sensação de que foi ali, nas volta logo. A saudade é cruel mas temos que estender esta certeza: não somos eternos na terra. Mas que ficou coisa sem ser falada, ah, ficou...que Deus continue cuidando de vc, amiga.Arlete Cruz Nascimento.

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  5. Linda homenagem para a Dona Preta! Que a passagem dela aqui neste mundo sirva de exemplo positivo a vários casais e famílias. Meus sinceros sentimentos a família e que deus conforte o coração de todos.

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  6. Não me lembro dela,mas me emocionou essa linda homenagem;com certeza merecedora.Muita luz d.PRETA.

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