segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DO MUCURI (parte 1)

A p r e s e n t a ç ã o


   


Quando meu amigo Ademir me fez o convite para escrever alguns parágrafos em seu blog, não pensei duas vezes. Primeiro, pela grande amizade construída ao longo de décadas; depois, por escrever sobre nossa história. Existe um grande vazio de informações sobre nosso passado, de modo que estaremos publicando quinzenalmente algumas notas sobre as coisas e as gentes dos sertões do Mucuri.   



Nada mais justo que começar nessa primeira publicação com um tema que homenageia Jader Moreira, que tão prematuramente nos deixou. Jader conhecia como poucos um dos maiores marcos da história regional: a estrada Santa Clara, a primeira estrada de rodagem do Brasil.


A primeira estrada de rodagem do Brasil começava em Nanuque

 

Mapa das colônias do Mucuri (Rio de Janeiro, 1866)


     Até as primeiras décadas do século XIX, o nordeste de Minas Gerais era ocupado por indígenas. Com o aquecimento agrícola na província mineira nos anos de 1800, essas matas se tornaram espaço de grande interesse de grupos do Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais e sul da Bahia.

 

     Com pretensão de obter lucros no transporte entre o Alto Jequitinhonha e o Rio de Janeiro, em 1847 foi criada a Companhia de Navegação e Comércio do Mucuri, por Teófilo Benedito Ottoni.  

 

     Baseado nos estudos de Victor Renault, feitos em 1836, Ottoni acreditava que o rio Mucuri era navegável, o que facilitaria o transporte de mercadorias. Porém, essa  navegabilidade não se confirmou, apresentando-se como alternativa a construção da estrada, feita por braços de brasileiros livres, escravos nacionais e africanos, chineses e europeus. Concluída em 1857 com 180 quilômetros, tornou-se a principal via de locomoção da região.  

 

     A estrada iniciava próximo à cachoeira de Santa Clara (município de Nanuque), passava na Colônia Militar de Urucu (localizada atualmente no município de Carlos Chagas) chegando até o então povoado de Nossa Senhora de Filadélfia, atualmente a cidade de Teófilo Otoni.

 

     O projeto era estendê-la até o Alto dos Bois, mas a Cia. do Mucuri não conseguiu recursos para tal empreitada.  Ao longo da estrada, foram criados povoados, pontos de tropeiros, grandes e pequenas propriedades. Foram  surgindo também as mais ricas e variadas formas de representações culturais.

 

     Porém, com o aparecimento da estrada de Ferro Bahia e Minas, no final do século XIX, a Santa Clara foi minguando. Ao longo dos anos, diversos trechos desapareceram, a estrada deixou de ser referência, sua história se perdeu no tempo.

 

     Recentemente uma pesquisadora me perguntou sobre a localização de Paredes, ponto de apoio comercial no século XIX, situada à beira do rio Mucuri. Logo pensei: “Meu amigo Jader saberia responder”. O Mucuri é bastante rico culturalmente, mas se não trabalharmos essa realidade de forma sistemática, corre o risco de ver cair no esquecimento uma página tão significativa de nossa história. 



Márcio Achtschin Santos, PhD em História pela UFMG e professor da UFVJM. 




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