A p r e s e n t a ç ã o
Quando meu amigo Ademir me fez o convite para escrever alguns parágrafos em seu blog, não pensei duas vezes. Primeiro, pela grande amizade construída ao longo de décadas; depois, por escrever sobre nossa história. Existe um grande vazio de informações sobre nosso passado, de modo que estaremos publicando quinzenalmente algumas notas sobre as coisas e as gentes dos sertões do Mucuri.
A primeira estrada de rodagem do Brasil começava em Nanuque
Mapa das colônias do Mucuri (Rio de Janeiro, 1866)
Até as primeiras décadas do século XIX, o nordeste de
Minas Gerais era ocupado por indígenas. Com o aquecimento agrícola na província
mineira nos anos de 1800, essas matas se tornaram espaço de grande interesse de
grupos do Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais e sul da Bahia.
Com pretensão de obter lucros no transporte entre o Alto
Jequitinhonha e o Rio de Janeiro, em 1847 foi criada a Companhia de Navegação e
Comércio do Mucuri, por Teófilo Benedito Ottoni.
Baseado nos estudos de Victor Renault, feitos em 1836,
Ottoni acreditava que o rio Mucuri era navegável, o que facilitaria o
transporte de mercadorias. Porém, essa navegabilidade não se confirmou,
apresentando-se como alternativa a construção da estrada, feita por braços de
brasileiros livres, escravos nacionais e africanos, chineses e europeus.
Concluída em 1857 com 180 quilômetros, tornou-se a principal via de locomoção
da região.
A estrada
iniciava próximo à cachoeira de Santa Clara (município de Nanuque), passava na
Colônia Militar de Urucu (localizada atualmente no município de Carlos Chagas)
chegando até o então povoado de Nossa Senhora de Filadélfia, atualmente a
cidade de Teófilo Otoni.
O projeto era estendê-la até o Alto dos Bois, mas a Cia.
do Mucuri não conseguiu recursos para tal empreitada. Ao longo da estrada, foram criados povoados,
pontos de tropeiros, grandes e pequenas propriedades. Foram surgindo também as mais ricas e variadas
formas de representações culturais.
Porém, com o aparecimento da estrada de Ferro Bahia e
Minas, no final do século XIX, a Santa Clara foi minguando. Ao longo dos anos,
diversos trechos desapareceram, a estrada deixou de ser referência, sua
história se perdeu no tempo.
Recentemente uma pesquisadora me perguntou sobre a
localização de Paredes, ponto de apoio comercial no século XIX, situada à beira
do rio Mucuri. Logo pensei: “Meu amigo Jader saberia responder”. O Mucuri é
bastante rico culturalmente, mas se não trabalharmos essa realidade de forma
sistemática, corre o risco de ver cair no esquecimento uma página tão
significativa de nossa história.
Márcio Achtschin Santos, PhD em História pela UFMG e professor da UFVJM.
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