domingo, 7 de fevereiro de 2021

PALAVRA DO EDITOR: MINHA ÚLTIMA CONVERSA COM REGINALDO NO WHATSAPP

  

O estilo único de um cara singular: aviação como hobby, cachorros de rua como missão assumida e outros quereres

 

Por pura brincadeira e zoação, a gente sempre falava que a morte só chegaria em 2038...

 

Conversa no WhatsApp


Segunda-feira, 18 de janeiro de 2021, 13h58min.

 

Reginaldo me enviou uma mensagem de WhatsApp:

 

- Tô internado de Covid, querendo me levar antes da nossa tabela. Kkk

 

Somente fui ver a mensagem às 14h39. Respondi:

 

- Rapaz, não sabia...

- Mas fique tranquilo, a gente só vai em 2036.

- Saúde, amigão!

 

Às 15h00 em ponto ele me respondeu com emojis de risada.

 

No mesmo horário, perguntei?

 

- Vc tá internado onde?

 

Às 15h04 ele respondeu:

 

- Gercy, professor. (Referência ao Hospital Gecy Gomes).

 

Às 15h05 eu falei:

 

- Fique bem e saia logo daí!!!

 

E completei:

 

- Quanto menos tempo de hospital, melhor, né?

- Melhoras, abraço.

 

E depois não nos falamos mais.

 



O QUE SERIA A TAL “TABELA” MENCIONADA POR REGINALDO?

 

A “tabela” mencionada por Reginaldo foi durante 20 anos uma espécie de foco, de senha, de assunto para nossas conversas.

 

Explico.

 

Em março de 2001, 20 anos atrás, eu assinava uma coluna chamada “À Vista, Um Ponto” nas edições mensais da REVISTA OBJETIVO.

 

A tal matéria foi sobre a “Tábua de Vida” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo que o órgão fez a respeito da expectativa de vida do brasileiro naquela chegada do século XXI.

 

Reginaldo era leitor e colaborador da revista, e quando leu a matéria, comentou mais ou menos assim:

 

“Professor, pelo que você calculou, a gente só tem mais 37 anos de vida pela frente, já que vamos morrer em 2038. Esse IBGE não sabe de porcaria nenhuma... Quero viver muito mais que isso...”

 

A dita “previsão” valia pra nós dois. Ele era de agosto de 1963, oito meses mais velho, já que sou de junho de 1964.

 



Como você, leitor, pode observar, em nossa conversa pelo WhatsApp eu errei o ano: falei 2036, mas o estudo do IBGE havia indicado 2038.

 

E assim fica explicado o que ele mencionou ao se lembrar da “tabela”. Acabou partindo antes.

 

Claro que Régi e eu nunca levamos a sério a matéria. Era apenas motivo de brincadeiras, zoação, pra gente falar de outros assuntos que abrangiam desde política nacional, administração municipal, super-heróis, situação dos animais de rua, lembranças do passado, caminhadas, passeios de bicicleta (ele sempre me convidava)...

 



Na maioria das vezes, a gente se encontrava aos domingos na banca de revistas do seu irmão, o Jaime, ali no “redondo”, perto dos bancos, mas o acaso também nos unia em outros pontos da cidade.

 

Era sempre educado, cortês, bem-informado, e nossas conversas eram temperadas por muitas doses de bom humor.

 



Havia muito respeito e afinidade. Era um cara legal, apaixonado pela família, cuidava com imenso carinho de todos os que rodeavam: a esposa Carminha, sua mãe dona Bia, irmãos, sobrinhos...

 

Quando postou esta foto no Facebook, ele comentou: "Só não tenho sorriso, mas sou feliz voando"


VOAR: PAIXÃO

 

Apelidado de “Coruja”, Reginaldo curtia o radioamadorismo, um serviço de comunicação via satélite que era o maior sucesso antes da internet. Entre os hobbies preferidos, voar era a paixão de Reginaldo.

 

Cuidava com carinho do Aeroporto


Adorava passar horas e horas do dia no Aeroporto, pegando carona em jatinhos, fazendo voos panorâmicos sobre Nanuque e região. Lutou bravamente para que a cidade voltasse a ter voos aéreos regulares para Belo Horizonte, Vitória e outras cidades. Algumas experiências chegaram a ser colocadas em prática, mas parecia inviável para as empresas a manutenção de linhas regulares, já que o preço da passagem acabava ficando desinteressante aos interessados.

 

Miniatura do boeing 767 da Varig: presente que guardo há 18 anos


Era colecionador de miniaturas. Em 2003, quando trabalhamos juntos na Prefeitura (governo de Armando Rodrigues Gomes), ele me presenteou com uma réplica do Boeing 767 da Varig, empresa brasileira que entre 1960 e 1980 chegou a ser uma das maiores e mais conhecidas companhias aéreas privadas do mundo, até encerrar as atividades em 2006. Guardo comigo como ornato aqui na redação.


 



CACHORROS E OUTROS BICHOS

 

Cuidar dos animais de rua – principalmente cachorros – era uma espécie de “missão” assumida por Reginaldo. Não tolerava ver alguém maltratando os bichos que reclamava, dependendo do caso até acionava a polícia se fosse necessário. Era ativista de movimentos pela proteção dos animais.

 

Ativista do Sindicato dos Servidores Públicos


Em suma, Reginaldo foi um cara – digamos – “na dele”. Servidor público dedicado e extremamente organizado na Prefeitura, desde a década de 1980, quando era auxiliar do então contador titular Alberto Ferreira, de saudosa memória, até assumir funções importantes nos governos locais, inclusive de secretário de Administração, com passagem também pela Contabilidade da Câmara.


Foi servidor público efetivo por 35 longos anos da Prefeitura Municipal.

 

Comício de Brizola em 1989: Reginaldo foi o locutor da campanha nas eleições presidenciais


Também atuava de mestre de cerimônias em eventos públicos, como Desfile do 7 de Setembro e outras solenidades cívicas, inaugurações de obras e até como locutor de comícios eleitorais. Lembro que sua estreia em palanques foi em 1989, durante a campanha presidencial. Na época, a convite do ex-vereador Luiz Macário, que era presidente do PDT (eu era secretário), Reginaldo assumiu o microfone da campanha do candidato Leonel Brizola em Nanuque. Ficamos em terceiro lugar. Fernando Collor foi o primeiro e Lula, o segundo mais votado.


Sua última participação foi no dia 1º de janeiro deste ano, na posse do prefeito Gilson Coleta, do vice Alemão e dos vereadores. Veja vídeo 👇




Perdi muitos amigos no transcorrer desses dez meses de pandemia, uns mais próximos, mais chegados, como foi o caso do Régi.

 



Que descanse em paz!

 

Vai fazer muita falta.

 

Vida que segue.


 

PROF. ADEMIR RODRIGUES DE OLIVEIRA JR.

 

 

 

3 comentários:

  1. Excelente, foi um grande amigo, fui instrutor Tiro de Guerra de 2003 a 2006, me ajudou muito

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  2. Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, a gente nunca está preparado para perder alguém.
    😔😔😔😪

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