O estilo único de um cara
singular: aviação como hobby, cachorros de rua como missão assumida e outros
quereres
Por pura brincadeira e zoação,
a gente sempre falava que a morte só chegaria em 2038...
Conversa no WhatsApp |
Segunda-feira, 18 de janeiro
de 2021, 13h58min.
Reginaldo me enviou uma
mensagem de WhatsApp:
- Tô internado de Covid, querendo
me levar antes da nossa tabela. Kkk
Somente fui ver a mensagem às
14h39. Respondi:
- Rapaz, não sabia...
- Mas fique tranquilo, a gente
só vai em 2036.
- Saúde, amigão!
Às 15h00 em ponto ele me
respondeu com emojis de risada.
No mesmo horário, perguntei?
- Vc tá internado onde?
Às 15h04 ele respondeu:
- Gercy, professor.
(Referência ao Hospital Gecy Gomes).
Às 15h05 eu falei:
- Fique bem e saia logo daí!!!
E completei:
- Quanto menos tempo de
hospital, melhor, né?
- Melhoras, abraço.
E depois não nos falamos mais.
O QUE SERIA A TAL “TABELA”
MENCIONADA POR REGINALDO?
A “tabela” mencionada por
Reginaldo foi durante 20 anos uma espécie de foco, de senha, de assunto para
nossas conversas.
Explico.
Em março de 2001, 20 anos
atrás, eu assinava uma coluna chamada “À Vista, Um Ponto” nas edições mensais
da REVISTA OBJETIVO.
A tal matéria foi sobre a “Tábua
de Vida” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo
que o órgão fez a respeito da expectativa de vida do brasileiro naquela chegada
do século XXI.
Reginaldo era leitor e
colaborador da revista, e quando leu a matéria, comentou mais ou menos assim:
“Professor, pelo que você
calculou, a gente só tem mais 37 anos de vida pela frente, já que vamos morrer
em 2038. Esse IBGE não sabe de porcaria nenhuma... Quero viver muito mais que
isso...”
A dita “previsão” valia pra
nós dois. Ele era de agosto de 1963, oito meses mais velho, já que sou de junho
de 1964.
Como você, leitor, pode
observar, em nossa conversa pelo WhatsApp eu errei o ano: falei 2036, mas o
estudo do IBGE havia indicado 2038.
E assim fica explicado o que
ele mencionou ao se lembrar da “tabela”. Acabou partindo antes.
Claro que Régi e eu nunca
levamos a sério a matéria. Era apenas motivo de brincadeiras, zoação, pra gente
falar de outros assuntos que abrangiam desde política nacional, administração
municipal, super-heróis, situação dos animais de rua, lembranças do passado, caminhadas,
passeios de bicicleta (ele sempre me convidava)...
Na maioria das vezes, a gente
se encontrava aos domingos na banca de revistas do seu irmão, o Jaime, ali no “redondo”,
perto dos bancos, mas o acaso também nos unia em outros pontos da cidade.
Era sempre educado, cortês,
bem-informado, e nossas conversas eram temperadas por muitas doses de bom
humor.
Havia muito respeito e
afinidade. Era um cara legal, apaixonado pela família, cuidava com imenso
carinho de todos os que rodeavam: a esposa Carminha, sua mãe dona Bia, irmãos,
sobrinhos...
Quando postou esta foto no Facebook, ele comentou: "Só não tenho sorriso, mas sou feliz voando" |
VOAR: PAIXÃO
Apelidado de “Coruja”,
Reginaldo curtia o radioamadorismo, um serviço de comunicação via satélite que
era o maior sucesso antes da internet. Entre os hobbies preferidos, voar era a
paixão de Reginaldo.
Cuidava com carinho do Aeroporto |
Adorava passar horas e horas
do dia no Aeroporto, pegando carona em jatinhos, fazendo voos panorâmicos sobre
Nanuque e região. Lutou bravamente para que a cidade voltasse a ter voos aéreos
regulares para Belo Horizonte, Vitória e outras cidades. Algumas experiências
chegaram a ser colocadas em prática, mas parecia inviável para as empresas a
manutenção de linhas regulares, já que o preço da passagem acabava ficando
desinteressante aos interessados.
Miniatura do boeing 767 da Varig: presente que guardo há 18 anos |
Era colecionador de
miniaturas. Em 2003, quando trabalhamos juntos na Prefeitura (governo de
Armando Rodrigues Gomes), ele me presenteou com uma réplica do Boeing 767 da
Varig, empresa brasileira que entre 1960 e 1980 chegou a ser uma das maiores e
mais conhecidas companhias aéreas privadas do mundo, até encerrar as atividades
em 2006. Guardo comigo como ornato aqui na redação.
CACHORROS E OUTROS BICHOS
Cuidar dos animais de rua –
principalmente cachorros – era uma espécie de “missão” assumida por Reginaldo.
Não tolerava ver alguém maltratando os bichos que reclamava, dependendo do caso
até acionava a polícia se fosse necessário. Era ativista de movimentos pela
proteção dos animais.
Ativista do Sindicato dos Servidores Públicos |
Em suma, Reginaldo foi um cara
– digamos – “na dele”. Servidor público dedicado e extremamente organizado na
Prefeitura, desde a década de 1980, quando era auxiliar do então contador titular Alberto Ferreira, de saudosa memória, até assumir funções importantes nos
governos locais, inclusive de secretário de Administração, com passagem também
pela Contabilidade da Câmara.
Foi servidor público efetivo por 35 longos anos da Prefeitura Municipal.
Comício de Brizola em 1989: Reginaldo foi o locutor da campanha nas eleições presidenciais |
Também atuava de mestre de
cerimônias em eventos públicos, como Desfile do 7 de Setembro e outras
solenidades cívicas, inaugurações de obras e até como locutor de comícios
eleitorais. Lembro que sua estreia em palanques foi em 1989, durante a campanha
presidencial. Na época, a convite do ex-vereador Luiz Macário, que era
presidente do PDT (eu era secretário), Reginaldo assumiu o microfone da
campanha do candidato Leonel Brizola em Nanuque. Ficamos em terceiro lugar.
Fernando Collor foi o primeiro e Lula, o segundo mais votado.
Sua última participação foi no dia 1º de janeiro deste ano, na posse do prefeito Gilson Coleta, do vice Alemão e dos vereadores. Veja vídeo 👇
Perdi muitos amigos no transcorrer desses dez meses de pandemia, uns mais próximos, mais chegados, como foi o caso do Régi.
Que descanse em paz!
Vai fazer muita falta.
Vida que segue.
PROF. ADEMIR RODRIGUES DE OLIVEIRA JR.
RIP Reginaldo!!😢❤🙏
ResponderExcluirExcelente, foi um grande amigo, fui instrutor Tiro de Guerra de 2003 a 2006, me ajudou muito
ResponderExcluirMesmo sabendo que um dia a vida acaba, a gente nunca está preparado para perder alguém.
ResponderExcluir😔😔😔😪