domingo, 22 de agosto de 2021

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DO MUCURI (parte 7)



Nanuque: pioneira também nos movimentos grevistas do Mucuri


   


   A Vila de Santa Clara, localizada no município de Nanuque, foi o primeiro núcleo de ocupação da região do Mucuri mineiro. Iniciado em 1852, ficava às margens do rio Mucuri, entre os estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Ao receber desde o início diversos grupos, não era só a porta de entrada para o Mucuri, mas também o espaço onde se sentiam os primeiros impactos dos imigrantes europeus que chegavam para a região.

   Além das dificuldades culturais vividas pelos grupos vindos do Velho Mundo para o nordeste de Minas Gerais em meados do século XIX, as relações de trabalho com a Companhia do Mucuri aguçava ainda mais as tensões. 

   Muitos europeus acreditavam em falsas promessas, garantidas, inclusive, em contratos assinados antes mesmo de vir para o Brasil. Os gastos com a viagem, alimentação, remédios, ferramentas e aquisição de lotes (a 300 mil réis) teriam de ser pagos à Companhia em contratos de difícil entendimento quanto a valores, como questões cambiais, ou sistema de pesos e medidas (palmas, arrobas etc). Com o preço do toucinho na região a mil e 300 réis e a farinha a 400 réis, a oferta de trabalho a 640 réis/dia seria difícil a sobrevivência. O conflito era uma questão de tempo.

   Em 1857, alguns colonos chegados da Prússia começaram um movimento exigindo melhorias salariais. Com uma prancha de ferro da Companhia do Mucuri, dezesseis prussianos desceram o rio Mucuri, partindo de Santa Clara, em direção a São José de Porto Alegre, atual município de Mucuri, Bahia. 

   Teófilo Benedicto Ottoni, fundador e diretor da Companhia, veio rapidamente do Rio de Janeiro para conter o que chamou “fazer parede”. Ottoni chegou com um juiz de paz e 30 homens armados. Sem oferecer resistência, os primeiros grevistas da região foram detidos pela força policial. Os líderes dos movimentos foram processados em Caravelas, BA, e os outros foram condenados ao trabalho forçado na construção da estrada de Santa Clara e do caminho de São Mateus a Ribeirão das Pedras.

   Mas os problemas em Santa Clara não encerraram. Entre outubro de 1858 e abril de 1859 morreram, sem qualquer assistência, 38 colonos alemães de tifo. O quadro era de revolta e indignação quando chegou ao Mucuri, em 1859, Robert Ave-Lalemant, que denunciou as péssimas condições vividas pelos imigrantes. 

   O governo brasileiro foi obrigado a custear a passagem dos estrangeiros, sendo que grande parte retornou às regiões de origem. Diante do tratamento dado aos europeus, foi promulgado o Edito de Heydt, restringindo a emigração alemã para o Brasil. Encerrou de modo melancólico a experiência de branqueamento planejado pelo Império e sua elite para a região.

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Márcio Achtschin Santos, PhD em História pela UFMG e professor da UFVJM.

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