Os 13: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriotas), Ciro
Gomes (PDT), Eymael (DC), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique
Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo (Novo), João Goulart Filho
(PPL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU)
Arte: Quinho - jornal Estado de Minas |
A campanha eleitoral começa oficialmente nesta
quinta-feira com 13 nomes na corrida ao Palácio do Planalto mais imprevisível
no país desde o fim da ditadura, inclusive com um candidato preso
A mais imprevisível e inusitada corrida presidencial
desde a redemocratização do país, depois de 21 anos de ditadura militar
(1964-1985), começa oficialmente amanhã com muitas incertezas em tempos de
redes sociais, que serão decisivas para o pleito, e previsão de avalanche de
fake news, as falsas notícias que devem contaminar a campanha.
E com novos partidos, como o Novo, que passará pelo
primeiro teste nas urnas. No dia 7 de outubro, 147,3 milhões de brasileiros
estarão aptos para votar em 13 candidatos dos mais variados perfis. A primeira
incerteza é em relação ao candidato líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Nunca antes na história deste país um candidato a
presidente tentou, da prisão, disputar a eleição. Detido desde 7 de abril na
sede da Polícia Federal em Curitiba, depois de condenado na Lava-Jato por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá (SP), o
PT deve registrar a candidatura de Lula, hoje, no Tribunal Superior Eleitoral.
A expectativa, entretanto, é de que o registro seja
impugnado porque a situação do ex-presidente se enquadra na Lei da Ficha Limpa,
que barra candidatados condenados em segunda instância.
Diante da iminente impugnação, o PT armou um plano B. O
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad seria o cabeça de chapa, tendo como
vice a deputada estadual gaúcha Manuela d’Ávila (PCdoB).
Sem Lula, a inusitada corrida ganharia novo líder,
segundo as pesquisas de intenção de voto, O deputado Jair Bolsonaro (PSL),
capitão da reserva do Exército. Mesmo sem conseguir fazer alianças devido ao
discurso radical, como a defesa do uso de armas pela população, o parlamentar
tem boas chances de chegar ao segundo turno.
Já o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenta
fazer o PSDB, que chegou ao segundo turno em todas as eleições desde 1994 (e
venceu em 1998), voltar ao Palácio do Planalto.
Mas tem dificuldade de se consolidar na corrida
presidencial. Para tentar viabilizar a candidatura e garantir maior tempo de
TV, o tucano recebeu o apoio do Centrão, bloco de partidos que ajudou a eleger
Dilma Rousseff em 2014 e deu sustentação ao governo até o impeachment, em 2016.
Depois de bancar o governo Temer, que sucedeu Dilma, o
PSDB procura agora se desvincular do emedebista. A mesma dificuldade em relação
ao governo encontra o candidato oficial, o ex-ministro Henrique Meirelles
(MDB).
Apoiado pelo presidente com a menor popularidade da
história do país, Meirelles tenta também se dissociar de Temer.
Ele aproveita seu tempo de entrevistas – e deve fazer
mesmo durante o programa de TV, que começa no dia 31, para se vangloriar dos
bons tempos da economia, quando era um dos principais nomes da equipe
ministerial do governo Lula, hoje em campos opostos.
A corrida presidencial tem ainda outro candidato que pode
surpreender, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes. O pedetista diz que não tem
rabo preso com ninguém, mas fez todos os acenos possíveis para ter o Centrão,
que acabou ficando com o candidato tucano e costumar cobrar alto preço pelo
apoio no Congresso Nacional e na composição da equipe de governo.
Estes cinco candidatos serão ainda perseguidos na corrida
presidencial por outros oito com menor potencial de voto. Amanhã à noite, os
principais postulantes do Planalto vão se encontrar no segundo debate, na
RedeTV, uma semana depois do primeiro confronto, na TV Bandeirantes, no segudo
round de uma disputa imprevisível.
O fator Lava-Jato
Para o professor de ciência política da Universidade de
São Paulo (USP), Rogério Arantes, a eleição de 2018 traz doses de
imprevisibilidade que decorrem principalmente da incógnita que paira sobre uma
das principais candidaturas, a do PT.
“Esta eleição mistura elementos do pleito de 1989 - crise
econômica, governo fraco e incapaz de galvanizar a sucessão presidencial, além
de fragmentação partidária recorde, com novo elemento desestabilizador do
sistema político: o fator Lava-Jato”, afirma ele.
“Há quatro anos, temos vivido um embate entre o sistema
de Justiça e o sistema político, com jogos contundentes, entre os quais o
impeachment da presidente está no conjunto da obra, aos quais se somam também o
escândalo da JBS, que atingiu em cheio os outros dois partidos da trinca
principal”, afirma Arantes, em referência ao PSDB e ao MDB.
“A grande dúvida em relação a esta eleição é se o sistema
político partidário sobreviveria”, assinala.
Apesar de estar sob ataque, o sistema político partidário
brasileiro sobreviveu, passando longe dos outsiders.
“Apesar da imprevisibilidade e da dispersão eleitoral
neste momento da disputa, estão presentes ingredientes que podem repetir no
segundo turno o padrão da polarização entre PT e PSDB que se verificou a partir
de 1998”, avalia o cientista político.
Ao se debruçar sobre os padrões de competição nos pleitos
presidenciais pós-redemocratização, Arantes aponta para dois tipos de eleição,
com uma de transição. “O primeiro tipo isolado, único, solteiro, foi o pleito
de 1989”, avalia.
O sistema político partidário se fragmentou ao longo da
Constituinte e, às vésperas da eleição, o país afundado numa crise econômica e
o governo Sarney enfraquecido, não conseguiu coordenar o processo sucessório. A
eleição presidencial seguinte, de 1994, foi na avaliação de Rogério Arantes,
uma transição para o modelo da polarização PT-PSDB.
“Tivemos uma eleição bipartidária sobretudo no segundo
turno, mas que, já no primeiro turno, apesar do número grande de candidatos,
apresentou redução da dispersão eleitoral. Uma terceira força, em todos os
pleitos entre 1998 e 2014 tentou furar o bloqueio para alcançar o segundo
turno, mas tivemos a repetição do padrão regular e estável”, afirma ele. (Transcrito
do jornal Estado de Minas, postado em 15/08/2018, com texto de Paulo Nogueira,
com Bertha Maakaroun e arte de Quinho)